sábado, 21 de agosto de 2010

As Noites e as Tavernas de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (por: Mariem Faria)


“Bebamos! nem um canto de saudade!
Morrem na embriaguez da vida as dores!
Que importam sonhos, ilusões desfeitas?
Fenecem como as flores!
José Bonifácio

Penso que toda análise de uma obra, apesar dos estudos mais profundos que se possa realizar, não é por si, completa. Nunca saberia ao certo o que Álvares refletia ao fazer seu livro "Noite na Taverna", muito menos o que ele queria que eu pensasse ao ler, só sei que cada leitor tem seu próprio modo de concluir o que quer que seja e de refletir sobre isso!
Particularmente, acho que é uma obra muito sombria e fascinante, gosto de coisas assim, obscuras, misteriosas e ao mesmo tempo surpreendentes, ainda mais depois que tentamos ligar o autor à obra!
Noite na taverna, é como um jogo que liga todas as histórias da obra em um só foco, que demonstra um conflito entre o que é ideal e desejável versus o que é real e condenável. O homem é arrastado para a perversão, pois o amor pela mulher ideal __que nunca se realiza plenamente__ acaba se transformando em sofrimento, homicídio, suicídio e levando-os a vícios.
O que me chamou muito a atenção é que apesar de todos os contos serem macabros, anormais e até mesmo inumanos o autor, com todo seu exagero criativo, nos envolve na magia do livro, e equilibra esse apelo ficcional com a
atração que as histórias nos causam, de um modo que os fatos relatados quase parecem reais, a despeito das orgias, dos deboches e das paixões, um tanto hipnóticas, que são contadas pelos boêmios.


O centro desse poder criador estava centrado no obscuro, como se percebe através do trecho abaixo:

“A imaginação estava mais comumente voltada para as idéias fantásticas e terríveis, comprazia-se com as coisas fúnebres e sinistras.”
Homero Pires (biógrafo do poeta)

Álvares escreveu Noite na Taverna justamente na época em que estava cursando Direito, em São Paulo, onde realizava suas “aventuras” em uma sociedade secreta conhecida como “Sociedade Epicuréia”. Chamavam-se uns aos outros por nomes de personagens de Lord Byron e colocavam em prática as “fantasias” do poeta inglês, realizando orgias e encontros em cemitérios. Todo estudante de alguma imaginação queria ser um “Byron” e os contos do livro retratam perfeitamente as orgias “byronianas”.
Apesar de que Álvares sofreu influências de autores importantes como Byron, Musset, Edgar Allan Poe e outros, creio que se ele tivesse vivido mais, teria realizado obras ainda mais independentes, com uma marca própria, só que como ele mesmo disse, ao enfrentar uma situação pessoal difícil: ”Cada ano uma vítima se perde nas ondas, e a sorte escolhe sorrindo os melhores dentre nós”.

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