quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Macário - Álvares de Azevedo

“(...) Esse é apenas como tudo que até hoje tenho esboçado, como um romance que escrevi numa noite de insônia, como um poema que cismei uma semana de febre, uma aberração dos princípios da ciência, uma exceção as minhas regras mais íntimas e sistemáticas. Esse drama é apenas uma inspiração confusa, rápida, que realizei as pressas como um pintor febril e trêmulo.
Vago como uma aspiração espontânea, incerto como um sonho; como isso o dou, tenham-no por isso.
Quanto ao nome, chamem-no drama, comédia, dialogismo; não importa. Não o fiz para o teatro. É um filho pálido dessas fantasias que se apoderam do crânio e inspiram (...)”

Este trecho é como o próprio Álvares descreve sua obra “Macário”, uma simples inspiração; uma obra que veio espontânea e incerta como um sonho.

• O drama Macário é divido em duas partes.

Na primeira, Macário, que estava viajando, para numa estalagem no meio do caminho onde ele conhece o Diabo em pessoa. Eles falam sobre vinhos e cigarros, mulheres e orgias, Deus, amor, a vida e a morte.
No caminho para a cidade eles param na casa de Satã (próxima a um cemitério); bebem mais um pouco, conversam mais um pouco e o diabo faz Macário dormir e ter um sonho. Um sonho assombroso, em um lugar escuro, sombrio, satânico ... gótico!
Macário acorda desesperado, manda Satã embora e acorda novamente na pensão do inicio da história, como se acordasse de um sonho. Porém a mulher da estalagem vê pegadas queimadas no chão que sugerem que o diabo realmente esteve com Macário naquela noite.


A segunda parte se passa na Itália. Macário encontra-se com um amigo, Penseroso, que é bem diferente do Diabo. Amava e cria plenamente em Deus; os diálogos com o amigo eram quase sempre sobre o amor e como ele era lindo e puro, Penseroso comparava as mulheres a anjos e não as tratava com vagabundas assim como falava Macário a Satã. Falavam também sobre crenças e poesia. Penseroso não gostava da atração de Macário pela morte e dizia coisas para tentar faze-lo crer mais, ter mais esperança, enxergar que a vida é bela. Esta é parte mais cansativa e artificial da história.
Quase no final, o ‘puro’ Penseroso morre e Macário volta a se ligar a Satã, que então leva o rapaz para uma orgia. Não para participar, mas para observá-la. O final da obra parece ser o início de Noite na taverna.

“Macário: Onde me levas?
Satã: A uma orgia. Vais ler uma página da vida; cheia de sangue e vinho - que importa? (...) Paremos aqui. Espia nessa janela.
Macário: Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. À roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas... umas lívidas, outras vermelhas... Que noite!”
...
Macário: Cala-te. Ouçamos.

• Uma curiosidade sobre o livro é que o nome Macário pode ter saído da palavra macabro. Concordemos que se encontrar com o diabo, beber vinho e coversar normalmente com ele sobre sexo, a vida e a morte é uma coisa bem macabra.

Edna Maria Calixto

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