Vago como uma aspiração espontânea, incerto como um sonho; como isso o dou, tenham-no por isso.
Quanto ao nome, chamem-no drama, comédia, dialogismo; não importa. Não o fiz para o teatro. É um filho pálido dessas fantasias que se apoderam do crânio e inspiram (...)”
Este trecho é como o próprio Álvares descreve sua obra “Macário”, uma simples inspiração; uma obra que veio espontânea e incerta como um sonho.
• O drama Macário é divido em duas partes.
Na primeira, Macário, que estava viajando, para numa estalagem no meio do caminho onde ele conhece o Diabo em pessoa. Eles falam sobre vinhos e cigarros, mulheres e orgias, Deus, amor, a vida e a morte.
No caminho para a cidade eles param na casa de Satã (próxima a um cemitério); bebem mais um pouco, conversam mais um pouco e o diabo faz Macário dormir e ter um sonho. Um sonho assombroso, em um lugar escuro, sombrio, satânico ... gótico!
Macário acorda desesperado, manda Satã embora e acorda novamente na pensão do inicio da história, como se acordasse de um sonho. Porém a mulher da estalagem vê pegadas queimadas no chão que sugerem que o diabo realmente esteve com Macário naquela noite.
A segunda parte se passa na Itália. Macário encontra-se com um amigo, Penseroso, que é bem diferente do Diabo. Amava e cria plenamente em Deus; os diálogos com o amigo eram quase sempre sobre o amor e como ele era lindo e puro, Penseroso comparava as mulheres a anjos e não as tratava com vagabundas assim como falava Macário a Satã. Falavam também sobre crenças e poesia. Penseroso não gostava da atração de Macário pela morte e dizia coisas para tentar faze-lo crer mais, ter mais esperança, enxergar que a vida é bela. Esta é parte mais cansativa e artificial da história.
Quase no final, o ‘puro’ Penseroso morre e Macário volta a se ligar a Satã, que então leva o rapaz para uma orgia. Não para participar, mas para observá-la. O final da obra parece ser o início de Noite na taverna.
“Macário: Onde me levas?
Satã: A uma orgia. Vais ler uma página da vida; cheia de sangue e vinho - que importa? (...) Paremos aqui. Espia nessa janela.
Macário: Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. À roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas... umas lívidas, outras vermelhas... Que noite!”
...
Macário: Cala-te. Ouçamos.
• Uma curiosidade sobre o livro é que o nome Macário pode ter saído da palavra macabro. Concordemos que se encontrar com o diabo, beber vinho e coversar normalmente com ele sobre sexo, a vida e a morte é uma coisa bem macabra.
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